Esse texto foi originalmente publicado em 23/11/2023.
Então você finalmente descobriu o motivo pelo qual a sua mãe sempre foi má com você, ou por que o seu ex namorado sempre foi tão grosseiro e hostil: eles são narcisistas. Mas calma... Eles tem traços de narcisismo ou transtorno de personalidade narcisista? E um narcisista pode ter traços de psicopatia ou ter transtorno de personalidade antissocial? Espere... Uma pessoa pode ter dois transtornos de personalidade ao mesmo tempo? Uma pessoa com transtorno de personalidade pode ter, simultaneamente, um transtorno de personalidade e um transtorno psicótico? Tem diferença? Não é tudo a mesma coisa? Socorro! A mãe tem muita oscilação de humor, talvez ela possa ser bipolar. Ou borderline. Mas ela sente prazer te humilhando? Talvez ela seja narcisista, ou até mesmo psicopata. Mas borderline não pode ser psicopata, né? E o agora ex namorado sempre dizia que ouvia umas vozes dentro da cabeça. Que vozes são essas? Todo mundo escuta uma voz dentro da cabeça, não? Talvez fosse só a consciência dele. Mas será que ele pode ser meio esquizofrênico? Um narcisista pode ser esquizofrênico? Talvez ele seja bipolar e esquizofrênico. Talvez você esteja ficando paranoico(a)...
Você fica confuso(a), vai pesquisar, e até identifica o transtorno: um pouco disso, um pouco daquilo. Alguns especialistas dizem isso, outros dizem aquilo. Quanto mais você pesquisa, mas compreende o que filósofo quis dizer quando falou "só sei que nada sei". Então você também cruza com alguém que leu um livro sobre psicopatas, e agora quer ficar discutindo por que, em seu próprio entendimento, e com base na leitura do livro que fez, seu ex namorado psicopata precisa ter o diagnóstico do grau de psicopatia para que ele possa ou não ser visto como uma ameaça. "Psicopatia tem grau?" Você se pergunta. E como é que "medem" o grau da psicopatia de alguém? Eles podem medir o grau de psicopatia de alguém falando com essa pessoa, mas como é que você vai convencer o ex namorado a conversar com uma terapeuta? E se o grau de psicopatia dele for muito alto, será que ele pode te matar? Será que ele pode matar outras pessoas? E se ele não for psicopata, e o terapeuta não considerar ele uma ameaça, você vai poder voltar a namorá-lo? Ele sempre te tratou tão mal, mas você sente tanto a falta dele... Talvez, você possa entrar em contato com ele e convencê-lo de que ele é um psicopata e precisa de ajuda, e com muito amor e carinho, ele volte a ser como no início do namoro, onde ele era tão amável e gentil, e te tratava como uma princesa.
Você fica confuso(a), vai pesquisar, e até identifica o transtorno: um pouco disso, um pouco daquilo. Alguns especialistas dizem isso, outros dizem aquilo. Quanto mais você pesquisa, mas compreende o que filósofo quis dizer quando falou "só sei que nada sei". Então você também cruza com alguém que leu um livro sobre psicopatas, e agora quer ficar discutindo por que, em seu próprio entendimento, e com base na leitura do livro que fez, seu ex namorado psicopata precisa ter o diagnóstico do grau de psicopatia para que ele possa ou não ser visto como uma ameaça. "Psicopatia tem grau?" Você se pergunta. E como é que "medem" o grau da psicopatia de alguém? Eles podem medir o grau de psicopatia de alguém falando com essa pessoa, mas como é que você vai convencer o ex namorado a conversar com uma terapeuta? E se o grau de psicopatia dele for muito alto, será que ele pode te matar? Será que ele pode matar outras pessoas? E se ele não for psicopata, e o terapeuta não considerar ele uma ameaça, você vai poder voltar a namorá-lo? Ele sempre te tratou tão mal, mas você sente tanto a falta dele... Talvez, você possa entrar em contato com ele e convencê-lo de que ele é um psicopata e precisa de ajuda, e com muito amor e carinho, ele volte a ser como no início do namoro, onde ele era tão amável e gentil, e te tratava como uma princesa.
Já passou por isso? Eu já. Muitas vezes eu cruzo com pessoas que aparentemente, sabem mais sobre a minha vida e a vida dos meus pais abusivos do que eu, apesar de nunca terem convivido comigo ou com eles. Às vezes, até conviveram um pouco, mas eles dizem "oh Daphne, é claro que seus pais não são assim. Eles são tão gentis e amáveis. Você tem certeza de que não está exagerando?". Algumas pessoas se julgam mais inteligentes do que as outras, e gostam de colocar em xeque o que elas veem e sentem, o que, por si só, já torna toda dor e sofrimento ainda pior.
A grande questão é: em todos os casos, essas pessoas não precisam de um diagnóstico por que elas não vão mudar! Claro, algumas poucas delas acabam mudando (e eu mesma sou exemplo disso), mas nós, os abusados, por acabarmos nos tornando dependentes emocionais de nossos abusadores, às vezes nos apegamos com muita força a essa mínima esperança: a de que algum dia eles irão perceber, por conta própria, todo o mal que nos tem feito e vão mudar, se arrepender de suas atitudes nocivas, e talvez eles até venham e nos peçam perdão. Enquanto isso, invariavelmente continuamos nos submetendo ao ciclo de abusos, o que torna toda a situação ainda mais desgastante e dolorosa, tanto física quanto mental e emocionalmente. Infelizmente a maioria deles jamais vai mudar, mas caso algum dia mudem, não podemos ficar sentados esperando por isso. Um "diagnóstico” que fazemos deles é importante para nós, afinal nós é que precisamos "colocar um nome" em toda aquela dor, humilhação e vergonha que passamos a vida inteira sofrendo, como se apenas o fato de a gente ter nascido fosse o bastante para que a gente fosse indesejado e odiado por nossos pais (e pelo resto das pessoas). Algumas pessoas, e até especialistas da área, como psicólogos e psiquiatras, afirmam que “não se pode fazer o diagnóstico dessas pessoas porque [insira aqui um motivo totalmente sem sentido, que ainda vai te deixar indignado]” e que nós devemos esperar que a pessoa venha procurar ajuda para se tratar e tente resolver seus problemas, e só então poderão ter um diagnóstico mais preciso. Agora, quem é que disse que eles acham que tem algum problema para resolver? Quem é que consegue convencer uma pessoa que ela está doente, se ela mesma não se der conta da sua doença? A propósito, ela não consegue ver que está doente e precisa de ajuda por que nem sequer considera que possa ter algo para tratar. Ela se considera perfeitamente saudável. Ela se considera uma grande vencedora, por ter conseguido deixar tudo para trás, muito bem escondido em algum lugar da sua mente, e agora tudo está certo com ela, e todos os outros são fracos por que "ficam por aí tentando tratar suas feridas emocionais como se elas fossem realmente significantes ou afetassem suas vidas". Eles se tornam mestres da manipulação por que foram vítimas de manipuladores também, e por isso sabem usar de chantagem emocional com tudo e com todos, de maneira a convencê-los que não tem problema algum para ser resolvido. Enquanto isso, nós é que pagamos o amargo preço da constante e cortante rejeição: críticas, insultos, maldições, sarcasmo, ódio, desprezo...
A grande questão é: em todos os casos, essas pessoas não precisam de um diagnóstico por que elas não vão mudar! Claro, algumas poucas delas acabam mudando (e eu mesma sou exemplo disso), mas nós, os abusados, por acabarmos nos tornando dependentes emocionais de nossos abusadores, às vezes nos apegamos com muita força a essa mínima esperança: a de que algum dia eles irão perceber, por conta própria, todo o mal que nos tem feito e vão mudar, se arrepender de suas atitudes nocivas, e talvez eles até venham e nos peçam perdão. Enquanto isso, invariavelmente continuamos nos submetendo ao ciclo de abusos, o que torna toda a situação ainda mais desgastante e dolorosa, tanto física quanto mental e emocionalmente. Infelizmente a maioria deles jamais vai mudar, mas caso algum dia mudem, não podemos ficar sentados esperando por isso. Um "diagnóstico” que fazemos deles é importante para nós, afinal nós é que precisamos "colocar um nome" em toda aquela dor, humilhação e vergonha que passamos a vida inteira sofrendo, como se apenas o fato de a gente ter nascido fosse o bastante para que a gente fosse indesejado e odiado por nossos pais (e pelo resto das pessoas). Algumas pessoas, e até especialistas da área, como psicólogos e psiquiatras, afirmam que “não se pode fazer o diagnóstico dessas pessoas porque [insira aqui um motivo totalmente sem sentido, que ainda vai te deixar indignado]” e que nós devemos esperar que a pessoa venha procurar ajuda para se tratar e tente resolver seus problemas, e só então poderão ter um diagnóstico mais preciso. Agora, quem é que disse que eles acham que tem algum problema para resolver? Quem é que consegue convencer uma pessoa que ela está doente, se ela mesma não se der conta da sua doença? A propósito, ela não consegue ver que está doente e precisa de ajuda por que nem sequer considera que possa ter algo para tratar. Ela se considera perfeitamente saudável. Ela se considera uma grande vencedora, por ter conseguido deixar tudo para trás, muito bem escondido em algum lugar da sua mente, e agora tudo está certo com ela, e todos os outros são fracos por que "ficam por aí tentando tratar suas feridas emocionais como se elas fossem realmente significantes ou afetassem suas vidas". Eles se tornam mestres da manipulação por que foram vítimas de manipuladores também, e por isso sabem usar de chantagem emocional com tudo e com todos, de maneira a convencê-los que não tem problema algum para ser resolvido. Enquanto isso, nós é que pagamos o amargo preço da constante e cortante rejeição: críticas, insultos, maldições, sarcasmo, ódio, desprezo...
Uma forma de resolver esse ponto, e é algo que costumo defender: ESQUEÇA O “RÓTULO”. Não importa se seu/sua abusador(a) é narcisista, psicopata, paranóide ou “esquizo estranho”. O caso é que, para todos os efeitos, a pessoa é simplesmente uma pessoa tóxica (venenosa) e certamente, abusiva. Você, que sofreu o abuso, sabe o quanto aquela pessoa é, de fato, abusiva, e nenhum diagnóstico (ou não) muda ou poderá mudar esse fato. A ferida ainda está lá, ela continua doendo, e ela precisa ser curada. Felizmente, não precisamos da ajuda do abusador para podermos obter cura.
É muito importante lembrar-se que qualquer pessoa que defenda a atitude do abusador como legítima, por mais legal e amigável que possa ser, também é uma abusadora! Ninguém defende uma pessoa cuja qual não compactue com a conduta. Eu aprendi a observar as atitudes das pessoas, mais do que as coisas que elas falam. Quem começa a observar com cuidado notará que todas essas pessoas tem o mesmo estilo de comportamento, o mesmo estilo de “ataque”, e que muitas vezes podem nos fazer sentir presos a elas, de alguma maneira, sem que a gente entenda ou faça sentido. Quando aprendi as regras do jogo macabro que o abusador faz com sua vítima, se tornou mais fácil lidar com eles e seus abusos, pois passei a reconhecê-los de longe! Elas sempre serão as “vítimas” e tentarão fazer com que a gente sinta pena delas, ou culpa, por não fazermos o que elas querem nos obrigar a fazer. Se elas não conseguem isso dessa forma, então elas tentam partir para a ameaça, utilizando-se do medo que possuímos, que acaba sendo gerado pela necessidade que essa pessoa tem de estar no controle e o fato de que aceitamos isso, mesmo que inconscientemente. O medo de perder o suposto amor dessa pessoa é o que nos mantém ligados a ela. Nos sentimos impelidos a nos tornarmos vítimas daquele abusador por que, de alguma maneira, acreditamos que essa manipulação é o jeito de esse abusador demonstrar seu “amor” por nós.
Fique atento a isso: abusadores estão por aí, em todos os lugares. Eles sempre farão você se sentir desconfortável com algo logo de cara. Sua intuição vai te alertar, e geralmente nesse momento, nós argumentamos com nossa própria “voz interna” e dizemos “ah, deve ser só coisa da minha imaginação”. Não, não é! Mas você acaba permitindo que o abusador entre, e então ele sente que passou no primeiro teste, e agora tem mais poder sobre você por que você se mostrou uma pessoa insegura para ele, ao não confiar nem sequer na sua própria intuição. Acontece que, embora sutil, acontece tantas e tantas vezes ao longo da vida, por tantas pessoas, dentro e fora da nossa própria casa, que nos acostumamos a simplesmente ignorar. Sofremos tantos abusos que acabamos acreditamos que isso é normal.
NÃO É NORMAL!!!
A única forma de quebrar o medo que te impede de sair do ciclo do abuso é passar a se conhecer melhor e, a partir disso, se tornar mais autoconfiante. Não tem a ver com apenas melhorar sua autoestima, mas todo o seu padrão de vida como “vítima”. Nos acostumamos a ser o que nossos abusadores dizem que somos. Mas se a gente passar a se conhecer melhor, veremos que não somos aquilo que eles nos disseram. Abusadores sempre mentem! Não acredite em nada do que eles dizem. Apenas olhe com carinho para si mesmo(a) e dê uma chance de conhecer melhor a pessoa INCRÍVEL que o seu abusador não quer que você conheça: VOCÊ MESMO(A)!
Saber quem você é, o que gosta e o que não gosta, sua personalidade, seu caráter, seus ideais e objetivos e seus limites como ser humano te torna tão próximo(a) da sua própria essência que você realmente passa a se amar. E é justamente isso: onde há amor, não pode haver medo, porque “o perfeito amor lança fora todo o medo” (I João 4:18). Não é uma tarefa das mais fáceis, confesso. Mas desde que aprendi todas essas lições, tenho tido mais facilidade em perceber quando irei ser abusada, e então consigo cortar imediatamente o abuso, me preservando de toda dor e sofrimento que vem em seguida. E desejo que todas as pessoas que foram abusadas, ou que estão sendo abusadas, de alguma forma, possam experimentar olhar para si com olhos mais amorosos, e não com os olhos destruidores dos seus abusadores, e nem como "vítimas" de seus algozes, que não podem ser socorridas, e agora precisam se acostumar a levar uma vida destruída. É possivel ser curado, mas também é necessário querer ser curado e procurar pela cura. E que todos possam encontrá-la um dia, assim como eu tenho encontrado a minha. 💗
"Vinde a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso."
MATEUS 11:28