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EU FUI SUMIR NO MUNDO

    

    Você também já sentiu vontade de simplesmente sumir? Sair correndo por ai (de preferência gritando alto), sem olhar para trás, e sem saber para onde está indo? Você simplesmente não quer ficar mais onde está. 
    No entanto, a gente também tenta, de forma [ir]racional, dizer para nós mesmos, que não tem a menor possibilidade de sairmos de onde estamos, então vamos simplesmente "empurrando com a barriga", até que nos encontramos num estágio de depressão tão avançado que não conseguimos encontrar alegria em absolutamente nada. E alguns de nós até tentam ir ao psiquiatra, tomar algum tipo de medicamento, e fazer terapia. Melhora com o tempo, mas logo nos encontramos em estágios até piores do que estavamos antes. Não entendemos porque estamos aqui, e o que estamos fazendo. Estamos apenas existindo. O precipício é logo ali. Basta qualquer gota em nosso "copo" já muito cheio e prestes a derramar para que a gente simplesmente queira se lançar fora. Viver se tornou um peso!
    Depois de muito considerar a respeito, cheguei em um estado mental conturbado: minha vida estava em risco. Viver perto de pessoas tóxicas - ainda mais quando elas são as pessoas que deveriam realmente se preocupar e se importar com você - é simplesmente venenoso. Eu realmente precisei fugir. Durante uma viagem que fiz, onde não contei a ninguém para onde fui e fiquei incomunicável, eu puder ver tudo isso. Da mesma maneira como o Apóstolo Paulo descreve em I Coríntios 12:4, são visões e revelações de "coisas indizíveis, coisas que ao homem não é permitido falar". Quando convivemos com pessoas tóxicas e abusivas, elas realmente vão nos matando por dentro. E era assim que eu me sentia: morta por dentro. Chegou um ponto onde eu não queria mais viver. 
    Me recuperar de tudo isso tem sido um batalha. Uma batalha que eu tenho lutado, por vezes, sozinha. Tem sido Deus e eu. Eu nunca pensei que tivesse tanta coragem de poder sair por ai e me desprender de tudo o que me ligava a minha casa e da minha família. Eu sai com uma pequena mala levando toda a minha vida. Eu não sabia se iria mais voltar para casa. Às vezes chego a conclusão que qualquer lugar no mundo é mais seguro do que viver próximo de pessoas emocionalmente mortas. Elas são como "zumbis": estão sempre procurando nos devorar e matar com suas palavras e atitudes doentias. 
    Enquanto estive fora, eu pude perceber o quanto sentia falta de mim mesma. Às vezes a gente acredita que depressão (ou essa angústia miserável que sentimos) pode ser falta de Deus. Mas Deus esteve comigo esse tempo todo. O que eu estava sentindo falta era de mim mesma. Da minha essência e personalidade, que foi sendo "quebrada" pelo caminho, devido a tantos traumas que eu sofri. A gente fala sobre "transtorno de personalidade" justamente por isso: ficamos fugindo da gente mesmo. Daquilo que acreditamos ser um monstro dentro de nós. Daquilo que nos fizeram acreditar que nós éramos. Se nem eles nos quiseram, então porque nós iriamos nos querer? 
    O fato é que sentimos que falta alguma coisa. A gente não sabe explicar muito bem o que é. Eu ainda tenho uma "voz" dentro da minha cabeça que está "esperando" que algo aconteça: que alguém venha me "salvar" de seja lá o que eu precise ser salva. Isso me faz lembrar, há anos atras, quando eu questionei Jesus do porque Ele nunca tinha enviado ninguém pra me ajudar. "Eu não encontrei ninguém, filha", Ele respondeu, "por isso Eu Mesmo vim". Aquilo me arrancou lágrimas dos olhos. Quem era eu pra merecer que Jesus saísse de Seu trono para vir me ajudar? Eu pedi à Ele que gostaria que, quando Ele olhasse para a Terra e precisasse encontrar alguém disposto a ajudar, que Ele pudesse olhar para mim e me ver disponível. 
    Então, recentemente, Ele me lembrou desse episódio. Ele disse "se lembra quando você disse que gostaria de estar disponível para ajudar as outras pessoas? Eu escolhi você para ajudar a si mesma. Você vai ser a primeira pessoa que vai ajudar". Mais lágrimas. Quem diria? Eu era a única pessoa disposta a ajudar, entao eu fui escolhida para ajudar a mim mesma. E fui ungida com uma força sobrenatural, que me permitiu sair de onde eu estava - e eu estava completamente quebrada e sem forças.
    Foram apenas duas semanas entre eu sair de casa e eu voltar. Eu precisei voltar. Precisei reencontrar a mim mesma. Parte de mim estava longe, mas a outra parte de mim estava perto. Quem eu era quando sai daqui morreu aqui. A que voltou não foi a mesma que saiu. Foi uma experiência fantástica que levarei pelo resto da minha vida. A vida que eu ganhei quando decidi - de forma meio maluca - sair do hospício que me adoecia. 
    Futuramente, pretendo contar um pouco mais das minhas aventuras. Mas, por ora, só tenho a agradecer a Deus por tudo que tenho passado. Dividir episódios meus, tão particulares com outras pessoas ainda é algo novo para mim, mas me faz sentir apoiada também. Me faz perceber que o mundo não é um lugar horrível, cheio de pessoas hostis, e tudo que elas querem é "me machucar". Existem pessoas "vivas" por aí, e parte da minha missão é encontrá-las e dizer-lhes: "tudo vai ficar bem! Apenas confie".