Não sei se você, alguma vez, teve que se divorciar na vida, mas eu já tive. Há muitas formas de divórcio hoje em dia, e grande parte delas envolvem longas e dolorosas brigas judiciais, mas felizmente esse não foi meu caso porque tudo foi facilmente decidido em um "desacordo" extrajudicial, assinado em um cartório. Legalmente, estávamos divorciados, e tudo acabou ficando bem.
Naquela época, porém, eu tive de aprender uma lição valiosa, mas que me custou muito caro: como é amargo o gosto da separação. O ex marido não era uma pessoa tóxica, mas haviam comportamentos nele que eu não estava mais disposta a tolerar. Eu acabei ficando tóxica. Eu precisei levar minha vida sozinha, e ai tive que encarar outro medo: o medo de ficar sozinha - mas isso é uma história para outro dia. Então, superado o medo da solidão, ainda restava aquele "gosto" amargo do fracasso e da culpa, que invariavelmente todos nós acabamos carregando. Naquela época, o medo de ser julgada fez com que eu me armasse para uma guerra, porque não queria carregar mais feridas do que já tinha (e fugir da guerra era algo fora de cogitação para mim, naquele momento). Felizmente não houveram julgamentos naquela época, então, sob esse ponto, tudo ficou bem (afinal, uma moça "cristã" e divorciada sempre é um grande "escandalo" na igreja! E o fato de eu não frequentar igrejas durante esse período me fez sentir mais segura).
No entanto, algo que ninguém soube durante aquele período, e um longo tempo que se estendeu depois disso, foi que eu chorava todas as noites. Eu adormecia com o rosto molhado e inchado, simplesmente porque isso fazia a minha energia se esgotar completamente. Era como uma máquina que entrava em superaquecimento e desligava automáticamente, para não superaquecer todo o sistema. Mas, por ter ido dormir triste, então eu acordava triste. Por algum tempo, meus dias eram todos nublados. Nem um lindo dia de sol, radiante e belo na minha janela fazia com que eu me sentisse bem.
Coisas como o lamento pelo tempo que eu "perdi" (e jamais poderei recuperar) com um relacionamento que fracassou, todo meu investimento, não apenas financeiro, mas também emocional, as frustrações por aquilo que poderia ter sido diferente e não foi, a culpa por ser quem eu era, e o que eu tinha me tornado, a dor de se sentir traída por si mesma ("como eu pude fazer isso comigo?"), e a tristeza pelo fim... Tudo isso somou em um gigantesco tornado em minha mente. E quando você avista um tornado, e de repente tudo parece em paz, cuidado: você pode ter entrado bem no meio dele, e uma hora vai ter que sair de lá pra não morrer.
Recentemente, precisei lidar com uma situação semelhante a essa. Eu pensava "porque está acontecendo tudo de novo? Eu já não passei por esse tornado antes?". Acontece que quando a gente entra em um ciclo da vida sem fechar adequadamente o ciclo anterior, acabamos misturando sentimentos do ciclo anterior com o do ciclo atual. Às vezes, possuimos tantos ciclos abertos, que já nem sabemos nominar de onde estão vindo tantos pensamentos e sentimentos ruins.
Geralmente, tenho sido conduzida a retornar aos ciclos que deixei abertos para fechá-los, e de forma correta. Voltar ao passado, reconhecer seus erros e ser honesta consigo mesma é algo bastante desagrádavel, confesso, porque voltar ao passado me lembra de como foi amargo sentir todo aquele turbilhão de emoções e sensações incômodas que tive que sentir. Nosso cérebro nos alerta pra que não voltemos aos lugares onde não nos sentimos confortáveis, e às vezes, as lembranças são extremamente desconfortáveis para nós, mas ignorá-las ou tentar fugir delas só torna o processo ainda mais doloroso e longo, ocasionando, por si só, mais dor e mais sofrimento. Mas não tem outro jeito: precisamos encarar o passado e dizer "fiquei presa a você, mas a partir de agora, vou lutar pra ser livre, te deixar pra trás, e viver o meu presente em paz! Então obrigada por tudo, mas você fica e eu vou".