Todos nós, em algum momento da vida, já ouvimos o sr. Madruga ensinar para o Chaves que "a vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena". Então, não. O título desse texto não é mera coincidência. Eu estou escrevendo sobre isso por que eu mesma, embora foque minha existência na cura, buscando em Deus o perdão, o amor e a paz, às vezes me pego tendo pensamentos de vingança contra aqueles que me fizeram mal (principalmente os da minha própria casa).
Parte de meus estudos para me tornar uma pessoa melhor me faz pesquisar de forma profunda a origem de cada sentimentos que eu experimento. Se eu souber a origem ou o gatilho de um sentimento negativo, se torna mais fácil lidar com ele e dissolvê-lo por completo, tanto do meu coração quanto do meu cérebro. Então aqui está algo que eu aprendi sobre como a necessidade de se vingar de alguém nasce em nós:
A necessidade de vingança surge a partir de um roubo. Um roubo sempre é praticado com uso de violência. Mas não estamos falando de um roubo que envolve algo material. Pode envolver, claro, mas geralmente ele é muito mais profundo que isso. Esse roubo envolve nossa alma e nosso espírito. Trata-se de um roubo emocional. Um bom exemplo disso é quando os pais são negligentes nos cuidados com seus filhos, porque eles estão roubando o direito de seus filhos se sentirem amados, protegidos e cuidados, e a violência é a omissão. Quando um pai é grosseiro com seu filho e lhe dirige palavras duras e hostis, lhe impondo realidades mentirosas, tais como "você não presta", "nunca será nada na vida", "ninguém nunca vai te querer", esse pai está roubando a dignidade e a autoestima do seu filho através de sua violência verbal. Quando um homem faz chantagem emocional com uma mulher, manipulando-a a ter relações intímas não desejadas com ele, usando a carência emocional, o medo e a baixa autoestima dela para conseguir satisfazer seus desejos egoístas, ele está roubando o direito de dizer "não" (livre arbítrio) que essa mulher tem, e a violência é emocional. Percebe como sempre há o uso de violência?
Nosso cérebro não faz distinção entre o tipo de violência pela qual somos atingidos. Para o cérebro, violência sexual é recebido da mesma maneira que uma violência verbal. A reação dele é exatamente a mesma: congelar (devido a descarga de adrenalina e cortisol) para nos manter vivo, porque o cérebro entende que essa é uma questão de vida ou morte. Por isso mesmo que quando alguém é grosseiro conosco e nos dirige palavras rudes, nossa primeira reação é de espanto. Às vezes chegamos até a ficar sem reação. Nosso cérebro interpreta como um "ataque surpresa". A violência do ataque é tão grande que nos sentimos paralizados, em primeiro momento, e só depois reagimos. Às vezes nem sequer encontramos forças para reagir, e então ficamos ruminando a questão por dias, semanas, meses, anos...
Falando em reação, essa é a próxima etapa da cadeia de decisões que o cérebro vai passar. Essa é, inclusive, uma das leis da física, propostas por Isaac Newton: "para cada ação existe uma reação oposta e de igual intensidade". Agora, lembre-se de alguma vez em que alguém foi extremamente rude com você e lhe dirigiu palavras violentas e insensíveis. Meu objetivo não é leva-lo(a) pelo caminho da dor, mas sim pelo caminho da cura. O primeiro sentimento presente após um ataque de violência é a vergonha. Nos sentimos expostos, humilhados, enfraquecidos, e às vezes até realmente dignos de receber tamanha violência. Sentimos que cometemos um grande erro. Sentimos que somos um erro. Não se engane! Nenhum de nós merece ser tratado com violência. Pode até ser que, de fato, tenhamos errado, mas quem é que não erra? Quanto mais errada e indigna uma pessoa sente que é, mas ela tende a se incomodar com as falhas e erros dos outros por que essas lembram suas próprias falhas e erros, e mais violenta e intolerante ela tende a ser com aqueles que erram, inclusive consigo mesma. Então o que essa pessoa fala, e toda violência que ela usa não é exatamente destinada a você, e nem é algo que deveria te atingir. Ela te vê como um espelho. O que ela fala, na verdade, é para ela mesma. É para seu próprio reflexo no espelho que ela projetou em voce.
O próximo sentimento que se apresenta é o medo. Inconscientemente sentimos medo do julgamento das outras pessoas. Uma vez que nos tornamos "imperfeitos" pelo que nos foi roubado, acreditamos que seremos punidos. Essa punição não é real, mas sim psicológica: é uma condenação a solidão e a rejeição (o mesmo que nossos antepassados faziam, excluindo pessoas do convívio social como punição pelos erros que elas cometiam). Esse medo de ser condenado a solidão é uma ameaça ao nosso senso de pertencimento. É como se, de alguma maneira, acreditássemos que seremos rejeitados por nossa imperfeição, mesmo ela não sendo vísivel. Isso se apresenta como uma "voz" em nossa mente que nos diz algo como "o que vão pensar de mim se...". Esse é o medo de que alguém descubra nossa imperfeição e o fato de termos sido roubados e não estarmos mais completos e inteiros.
Quando sentimos medo, automaticamente também nos sentimos culpados. Nosso cérebro, debaixo da influência de uma descarga de cortisol, passa a acreditar que sim, claro que somos dignos de sermos condenados. Afinal, nos tornamos imperfeitos, e não conseguimos reparar aquilo que nos foi roubado. Não percebemos, mas nos tornamos nosso próprio "executor". Carregamos uma sentença de morte dentro de nós.
Enquanto isso, outra parte de nós entra em conflito com toda a informação gerada pela vergonha, medo e culpa. Algo dentro de nós gera um impulso racional que nos motiva a lutar por nossa vida. Ele pensa algo do tipo "espere... Não é minha culpa! Foi aquela outra pessoa que me roubou. Porque eu é que tenho que ser condenado a solidão (morte)? Se alguém deve ser condenado, não sou eu, mas sim aquela outra pessoa". Esse sentimento chama-se RAIVA, e ele é originado por uma revolta interna causada por um senso de injustiça. De certa maneira, essa revolta nos permite lutar por nossa vida, porque não desejamos ser condenados a morte, tampouco desejamos morrer.
O problema da raiva é que ela gera uma prisão interna. Quando "transferimos" a culpa (e note bem! Estamos falando de culpa, não de responsabilidade, porque são elementos diferentes) nos tornamos como juízes, decretando uma sentença de condenação àquele que nos feriu. Isso equivale a, literalmente, se amarrar junto a pessoa que foi responsável por nosso ferimento emocional. Onde quer que a gente vá, estamos levando a pessoa que nos machucou conosco. A pergunta que fica é: porque fazemos isso? Inconscientemente acreditamos que, fazendo isso, ao "prender" aquele que nos roubou, isso fará com que ele devolva o que nos pertence. O problema é que não há possibilidade de isso acontecer, porque as pessoas não tem capacidade de nos devolverem o que roubaram de nossas almas. Não há essa possibilidade de reparação interna. A raiva é apenas um modo no qual acreditamos que estamos "torturando" alguém, mas na verdade, estamos torturando a nós mesmos.
Por esse motivo, manter esses sentimentos se torna algo tão perigoso para nós. Isso tudo não faz mal para a pessoa que nos feriu, mas faz mal para nós mesmos. Por isso, uma das principais atitudes que eu tomo quando alguém me fere é me lembrar das palavras do Senhor:
"A mim pertence a vingança e a retribuição.
No devido tempo os pés deles escorregarão.
O dia da sua desgraça está chegando,
e o seu próprio destino se apressa sobre eles".
Deuteronômio 32:35
JUSTIÇA X VINGANÇA
Uma das lições mais significativas que eu tenho aprendido é a diferença entre ser justa e ser vingativa. Ser vingativo geralmente tem a ver com querer devolver "na mesma moeda". Acabamos guardando a injustiça dentro do nosso coração, e todos os sentimentos negativos que falamos acima, mas ser justo significa abrir mão de todos os sentimentos por que eles são como sementes que tentaram plantar em nós. Podemos abrir mão e desapegar de quaisquer sentimentos negativos advindos de outras pessoas, sem precisar revidar a atitude agressiva que elas tiveram para conosco. Abrimos mão desses sentimentos porque eles não fazem mal a quem nos feriu, mas sim a nós mesmos. Além da ferida aberta, é como se ficássemos colocando molho de pimenta por cima. De nada serve a ainda causa uma dor maior ainda. Então desapegar de todas essas "sementes" ao invés de plantá-las em nosso coração é o primeiro passo. Entenda: o mundo é injusto, e quem pratica injustiça colherá injustiça. Se nos comportamos como nossos agressores, estaremos sendo iguais a eles. Sei que não é fácil, mas temos um Deus que olha para nós com amor e justiça, e também se vinga daqueles que nos fazem mal injustamente. Então cuidado para não ser injusto e se tornar uma vítima de sua própria injustiça.
"Quem cometer injustiça receberá injustiça, e não haverá exceção para ninguém."
Colossenses 3:25.
Outra lição valiosa que cabe aqui é o perdão. O perdão é uma ação (não um sentimento) que funciona apenas para aquele que perdoa. Em outras palavras, o perdão não precisa - e em muitos casos nem deve - envolver as pessoas que nos machucaram. O perdão é o ato de abrir mão da dívida emocional que aquela pessoa nos deixou. Ele terá significado e valor apenas entre você e Deus. O perdão é como dizer "Pai, a dívida que essa pessoa tem comigo é muito alta, e ela não tem como me pagar. Eu não quero desgastar minha saúde mental me incomodando com isso, então tome... Essa dívida agora pertence a Ti". É simples, mas não é facil, se não temos o costume de perdoar. Porém, do perdao advém a paz de espírito, e essa é uma recompensa maravilhosa que eu realmente desejo que você adquira.
Agora você já pode focar em seguir em frente. Não, você não vai esquecer o que aconteceu (e nem deve. Lembre-se: quem esquece seu passado está fadado a repetí-lo), mas deixou a dívida emocional nas mãos do Único que vai poder fazer a cobrança de uma maneira justa: Deus. Isso nos deixa livres para obtermos uma cura para nossa alma. Quando estamos feridos, corremos o risco de acabar ferindo outras pessoas (pessoas que nunca nos fizeram nada e não merecem ser feridas por nós). Mas quando estamos curados, temos paz e levamos essa paz para onde quer que a gente possa ir, e nada pode nos abalar. Por isso devemos abrir mão de todos esses sentimentos negativos derivados do trauma emocional. Se não desapegamos disso, nos tornamos iguais aqueles que feriram nossas almas, contribuindo assim para tornar o mundo um lugar cada vez mais doente e perverso. Por isso devemos nos esforçar intencionalmente para sermos curados e levar a cura e a paz conosco, para onde quer que possamos ir ou estar. Talvez o mundo lá fora não reconheça isso, mas viver em paz, com a alma curada é uma das melhores sensações que você poderá experimentar.
"Não diga 'eu o farei pagar pelo mal que voce me fez'.
Espere no Senhor e Ele dará vitória a você."
Provérbios 20:22