Ah, a ansiedade. Quem de nós nunca se sentiu ansioso(a) na vida que atire a primeira pedra. As pessoas estão se sentindo cada mais mais ansiosas e amedrontadas. A quantidade de diagnósticos de TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada) e o consumo de medicamentos ansiolíticos cresceu consideravelmente nos últimos vinte anos. Em uma pesquisa rápida, podemos perceber que nossos pais e avós não se preocupavam muito com isso. Cuidar da saúde mental era considerado coisa de gente "louca". A nossa geração é a que está - finalmente - tomando consciência dos efeitos negativos que a ansiedade derivada de gerações de inconsciência e medo resultaram. Mas de onde vem tanta ansiedade? Porque nos sentimos ansiosos, e mais ainda: de que maneira a ansiedade afeta nossa saúde física e mental?
Eu me lembro que meu primeiro diagnóstico foi dado aos vinte anos de idade. A minha queixa era a seguinte: eu não conseguia dormir a noite. Tinha o sono leve e qualquer ruído, por menor que fosse, me acordava. E para contribuir com isso, eu vivia e uma casa onde a falta de respeito, os gritos e os barulhos eram constantes. Não havia silêncio e paz era uma ficção científica. Eis o diagnóstico: ansiedade. E a psiquiatra explicou que a ansiedade era medo, mas eu simplesmente não entendia do que exatamente eu poderia estar com medo.
Quase quinze anos se passaram desse evento. Olho para trás e percebo o quanto eu evoluí. Hoje, certamente eu poderia explicar para a "eu" de vinte anos sobre sua dúvida quanto a ansiedade e o medo. E aqui estão algumas questões que eu aprendi, e ensinaria a mim mesma:
Sim, ansiedade é medo. Um medo derivado da falta de segurança. Observe que quando você se sente seguro(a), não sente ansiedade. Às vezes me sinto ansiosa em sair de casa e ir para algum lugar novo, mas não sinto ansiedade quanto volto para casa. Minha casa, hoje, é uma casa de paz. Posso descansar e me abrigar no meu silêncio, no conforto de estar pertinho do Morango, meu gatinho. Eu me sinto segura na minha casa, por que ela é o meu refúgio. Mas nem sempre foi assim. Quando morava com meus pais, eu vivia em um inferno. Eu não podia ser eu mesma por que nada do que eu era ou fazia era o suficiente. Eu precisava me desdobrar e fingir o tempo todo para afagar o ego inflado deles. E naturalmente isso me trouxe uma insegurança interna muito grande, e com ela veio a baixa autoestima (muito recorrente em filhos de pais abusivos e imaturos, que projetam todas as suas expectativas e inseguranças nas crianças). Graças a Deus hoje posso ser eu mesma, sem culpa e sem medo. E sem alguém não me aceitar como eu sou, bem... Isso não é meu problema. Mas você percebe como a ansiedade está diretamente ligada a falta - ou a sensação de falta - de segurança?
Conforme avancei meus estudos, durante os anos percebi que essa ansiedade pode surgir até mesmo antes de a gente nascer. Quanto mais insegura uma mãe está durante a gestação, mas inseguro seu bebê tende a se sentir diante da vida. Não se engane! Bebês, ainda que seus corpos estejam em formação, tem absoluta consciência de tudo o que acontece ao seu redor e de tudo o que sua mãe sente, embora nem sempre eles entendam tudo isso. Depois que nascem, os bebês procuram figuras as quais podem se apegar (geralmente os pais). Essas figuras devem lhe garantir segurança, para que eles possam se desenvolver de forma saudável e criar vínculos afetivos corretos com as demais pessoas ao seu redor. Essa ficou conhecida como "Teoria do Apego", desenvolvida pelo psiquiatra John Bowlby a partir de 1958. Dentro de sua teoria, a base do apego de um bebê em seus cuidadores sempre será uma tentativa de se obter segurança. Agora, se o bebê, de fato, vai se sentir seguro, isso dependerá de seus pais ou cuidadores, por que cabe a eles transmitirem segurança ou não para aquele pequeno ser humano indefeso. Se eles não souberem ou não quiserem transmitir segurança, o bebê vai se tornar cada vez mais ansioso. A questão que fica é: você se sentia seguro na sua casa, com seus pais? Eu posso afirmar que eu jamais me senti segura junto aos meus, e até hoje não me sinto. Embora tenha aprendido a me defender de seus ataques, ainda tenho que lidar com o fato de que jamais serei aceita. Sempre serei a filha "bode expiatório".
Ao contrário dos meus pais, que estão sempre criticando meu jeito de ser, Deus me aceita como eu sou. Ao lado Dele me sinto segura, até mesmo para errar. Aqui está algo que eu realmente gostei de ter aprendido: Deus espera que a gente erre, às vezes. Ele não me priva de cometer erros por que Ele sabe que sem cometer erros, eu jamais poderia aprender tudo o que eu aprendi. Como é bom ter um Pai que me ama incondicionalmente, e acima das minhas falhas. Como é bom me sentir segura, até mesmo para errar. Percebi que sentir essa segurança interna é o que acalmava a gigantesca ansiedade que eu sentia. Quanto mais segura uma pessoa se torna, menos ansiedade ela sente. A ansiedade nada mais é do que o medo da escassez, da falta de algo que ela considerava imprescindível: a segurança.
Nesse sentido, Jesus nos ensinou sobre ansiedade "quem de vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar uma hora que seja a sua vida?" (Mateus 6:27). Jesus não era um homem cheio de posses materiais, mas sua riqueza era interna. Jesus não se preocupava com nada por que Ele tinha o suficiente para sobreviver, e Ele sabia disso. No mesmo sentido, o apóstolo Paulo também diz "não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos para Deus" (Filipenses 4:6). O que ele tem a dizer é muito simples:
- Se você sentir a ansiedade chegando, não se desespere. Não escute o que a ansiedade tem a lhe dizer. Ela é uma péssima amiga.
- Seja lá o que estiver te incomodando ou preocupando, entregue a Deus e confie que Ele vai resolver. A maior parte do que nos preocupa ou incomoda não pode ser resolvida por nós (pelo menos, não imediatamente). Se não podemos fazer nada a respeito, então porque nos preocupar sobre isso e entrar em pânico, deixando a ansiedade tomar conta?
Naturalmente às vezes temos dificuldade de confiar em Deus, e isso é absolutamente normal. Alguns de nós - e eu me enquadro nisso - crescemos tendo medo de Deus. Onde há medo, não pode haver confiança, porque confiança requer segurança, e que segurança pode haver no medo? O apóstolo Pedro escreve "lancem sobre Ele [Jesus] toda a vossa ansiedade, porque Ele tem cuidado de vocês" (I Pedro 5:7). Veja, Pedro não era apenas um mero "queridinho do professor". Ele era amigo pessoal de Jesus enquanto Ele esteve aqui nessa terra. Ele mesmo teve suas ansiedades e medos, mas Jesus sempre esteve lá para socorrê-lo. Você se lembra quando ele ia afundando, após sair do barco no meio da tempestade, de madrugada, mas Jesus o ajuda imediatamente? Pedro sabia bem sobre o que ele estava falando.
Da mesma maneira, o apóstolo João entendeu perfeitamente o amor de Deus através de Jesus, porque ele se sentia amado (em João 13:23 ele mesmo se descreve como sendo o discípulo a quem Jesus amava, porque ele sentia o amor de Jesus por ele). Ele explica que Deus é amor (I João 4:8) e posteriormente ele diz que o perfeito amor lança fora todo o medo, porque o medo pressupoe castigo (I João 4:18). Quem tem medo de Deus jamais vai poder receber seu amor e sua segurança justamente por que o medo cega e impede a pessoa de se sentir amada. Quando entregar algo nas mãos de Deus e o medo lhe sobrevier, declare essas verdades:
- Eu amo a Deus
- Eu confio em Deus
- Todas as coisas colaboram para o meu bem (Romanos 8:28)
- Eu estou seguro!
Repita isso quantas vezes se fizerem necessárias, e veja sua ansiedade indo embora. Eu realmente coloco isso em prática e posso afirmar categoricamente que funciona.
Quando entregar sua ansiedade a Deus, saiba que Ele a recebeu e já esta tomando providências a respeito. Talvez você não esteja vendo nada acontecer, e eu entendo isso. Muitas vezes eu também não via e então eu questionava a Deus. Aqui está algo que Ele me disse a respeito, certa vez: "filha, não é por que você não está vendo nada acontecer que nada está acontecendo. Eu estou trabalhando!". Deus está sempre trabalhando, e o nosso trabalho é descansar nele.
O profeta Daniel orou mas só recebeu uma resposta 21 dias depois. Quando chegou o anjo com sua resposta, ele lhe disse que saiu imediatamente após a sua oração, porém foi impedido de chegar antes. Mas o que me chama a atenção é que ele lembra a Daniel que ele é muito amado. Deus não o desamparou nem apenas um momento sequer. O mesmo acontece conosco. Lembre-se de algo que estava te causando ansiedade semana passada, mês passado, ano passado. Você não superou? A ansiedade que sentiu sobre isso, de alguma maneira, tornou as coisas mais fáceis, ou mais rápidas? Quando entregar a ansiedade para Deus, imediatamente passe a agradecê-lo por todas as medidas que Ele já está tomando para resolver o problema. Quando você entrega uma ansiedade ou preocupação para Deus, ela passa a ser problema de Deus. Se não é seu problema, então por que se preocupar, não é mesmo?
O que acontece quando entregamos nossa ansiedade para Deus? Recebemos paz. A paz é o oposto da perturbação. A paz é o alívio que Deus nos dá. Até conhecer Deus de verdade, eu nunca havia experimentado paz ou alívio na minha vida. Havia tanto cortisol em meu sangue e em meu cérebro que absolutamente tudo me deixava insegura. Minha criança interior vivia em um deserto árido, perturbada por meus medos e temores mais profundos.
Deus não quer que a gente vivia em um deserto, perturbados por nossos temores (alguns deles, até sem fundamento algum). Deus deseja que vivamos em paz. Mas para isso, precisamos entregar nossas ansiedades para Ele.
Qual ansiedade você tem para entregar para Deus hoje?